O Mundo Pós-Guerra

O mundo pós-guerra

Primeiramente, temos que compreender a situação do mundo após a Primeira Grande Guerra, que marcou um novo rumo nas relações políticas, econômicas e militares de todos os envolvidos direta e indiretamente nela.
Com o Tratado de Versalhes assinado em 1919, a Alemanha foi a grande responsável pela guerra, tendo que pagar pesadas reparações aos países vencedores, reduzir seu exército a 100 mil homens (não sendo permitida a posse de aviões, tanques e submarinos) e perdeu grande parte de seu território e de todas as suas colônias ao redor do mundo (veja o vídeo). Essas perdas tiveram grande importância na formação dos países africanos e na geografia da Europa atual.



Todas essas medidas despertaram no povo alemão um sentimento de humilhação e vingança. A semente da Segunda Guerra já estava plantada.
Além do Tratado de Versalhes, foram assinados outros quatro, para tratar da dissolução dos impérios Austro-Húngaro e Otomano.
Para mais detalhes desses tratados e das mudanças que ocorreram no mapa europeu, decorrente do surgimento de novos países, leia os slides a seguir:



A Liga das Nações

Surgiu em 1919, como parte do Tratado de Versalhes, com o grande objetivo de assegurar a paz, sendo fundada por trinta e dois Estados e mais treze convidados.
A Liga apresentou muitas falhas, como a ausência dos Estados Unidos e da União Soviética. Apesar de ter o presidente Woodrow Wilson como um dos idealizadores, o Congresso norte-americano não aprovou o ingresso do país na organização, assumindo uma postura mais isolacionista. Já a União Soviética não teve o seu governo comunista reconhecido pela Liga.

Crise do Conselho de 1926:

Pode ser entendida como o choque entre dois processos distintos: de um lado a questão da segurança européia e a entrada da Alemanha na Liga e de outro a “obsessão” brasileira por um assento permanente no Conselho.

Caso brasileiro:
Desde 1919, o Brasil procurava ter um lugar reconhecido entre as grandes
potências da nova ordem internacional, se alinhando automaticamente aos EUA.
Como só um assento permanente poderia assegurar essa posição, os brasileiros agiram de todas as formas para conquistá-lo, com a justificativa de que o país seria o representante do continente americano na Liga. Esse processo foi intensificado pelo presidente Artur Bernardes.
Caso europeu:
A insegurança no continente era grande, principalmente na França, que teve seu território invadido pela Alemanha duas vezes em um curto período de tempo. Esse temor pode ser evidenciado pela utilização do Tratado de Versalhes e da Liga das Nações como meios de impedir o desenvolvimento germânico e pela construção da Linha Maginot.
Mas a França não podia contar com apoios defensivos contra a Alemanha, já que a Inglaterra possuía outros conceitos de segurança européia e a Rússia estava “isolada” pelos novos países formados.
A estabilidade do continente só poderia ser conseguida se a Alemanha fosse reintegrada ao sistema internacional. A entrada da Alemanha na Liga seria de fundamental importância, pois o status de grande potência seria novamente reconhecido e chegaria ao fim seu isolamento forçado do sistema de poder europeu.
Os Acordos de Locarno, assinados em 1925, reconciliou a França e a Alemanha, dando à Europa esperança real de segurança e suscitou a perspectiva de que somente a integração da Alemanha asseguraria a paz.
O Brasil viu em Locarno a oportunidade de assumir uma vaga permanente, com a possibilidade de uma reforma geral do Conselho. Mas para não diminuir seu prestígio, os alemães desejavam uma entrada exclusiva.
Quando isso ocorreu, o Brasil anunciou sua retirada definitiva da participação na Liga.

Caráter eurocêntrico:

O Tratado de Brian Kellong, assinado em 1928, pode ser considerado o ponto alto da Liga, em que seus signatários renunciaram à guerra como prática. Um acordo impossível de ser cumprido.
Assim, com a crise de 1929, os países apelaram para iniciativas unilaterais e isoladas, causando o crescimento do nazi-fascismo, a afirmação do regime stalinista na ex-União Soviética e uma renovada disputa por áreas coloniais na África, liderada pela Itália de Mussolini.
A Liga não contava com mecanismos apropriados para a manutenção da paz e nem representava de fato a distribuição do poder internacional, apresentando um perfil exageradamente eurocêntrico. Algumas invasões podem ser citadas para evidenciar a omissão da mesma:
• A anexação da Manchúria pelo Japão em 1931,
• A tomada da Etiópia pela Itália em 1935,
• A invasão da Finlândia pela União Soviética (admitida em 1934) em 1939,
• e ainda a da Abissínia pela Itália em 1935

Isso mostra que a organização era entendida muito mais como um instrumento de afirmação de soberania dos Estados do que como uma organização internacional para solucionar os conflitos.

Sistema de Mandatos:

Os mandatos foram instituídos pela Liga das Nações, para supervisionar os territórios que antes pertenciam às potências derrotadas na Primeira Guerra e auxiliá-los no processo de independência. Mas continuou sendo uma forma de colonialismo.

Mandatos no Oriente Médio:

O mosaico do Oriente Médio nos dias de hoje é reflexo das políticas adotadas pela Grã-Bretanha e pela França no começo do século XX, que passaram a controlar definitivamente a região, em 1920, na conferência de San Remo, buscando retomar sua credibilidade diplomática e militar no mundo com ajuda do tão cobiçado petróleo.
A França recebeu mandato para a Síria e o Líbano e a Grã Bretanha, o mandato para o Iraque e a Palestina, com a missão de criar um “lar nacional” judaico. Britânicos e franceses também dispuseram do petróleo iraquiano e definiram as condições para transportá-lo através da Síria, até o mediterrâneo:



O mandato francês sobre a Síria:
Após o aumento da violência na região, os franceses buscaram aumentar sua influência por meio da separação das minorias religiosas, enfraquecendo o movimento nacionalista árabe.
Foi imposto um domínio rigoroso, tornando o idioma francês compulsório nas escolas e adotando com os árabes as mesmas técnicas de administração empregadas nas colônias africanas.
A sociedade síria continuava demandando uma constituição, seguida de soberania, unificação do país e a garantia de liberdade individual, assim como ocorria no tempo do império otomano.
Mas, após um ano de confronto, os franceses conseguiram restaurar a ordem, e, apesar de um tratado firmado entre os dois países em 1936, os nacionalistas sírios nunca aceitaram a influência francesa, contestando as divisões do território.

Mandato britânico no Iraque:
Após a Primeira Guerra, o governo civil foi marcado por disputas tribais, exigência de proteção por diversos grupos e demanda de recursos a no Iraque. A situação complicava-se ainda pela presença de refugiados que abandonavam os territórios otomanos remanescentes com medo da retaliação turca.
Mas na Grande Revolução Iraquiana de 1920, uniram-se pela primeira vez em um esforço comum sunitas e xiitas, tribos, clãs e cidades. A construção do Iraque como Estado Nação dependia da integração religiosa e da solução da disputa ancestral entre as tribos e as populações urbanas.
Essa revolta permitiu, ainda que brevemente, extrair da complicada estrutura social do Iraque os elementos para o surgimento de um Estado, substituindo o regime militar por um governo árabe provisório, mas ainda dependente dos britânicos.
Apesar da pressão dos nacionalistas, e dos que se opunham à presença britânica, um tratado anglo-iraquiano foi firmado em 1922, exigindo dos iraquianos a sua continuada dependência dos britânicos. Em compensação, a Grã Bretanha assumia a responsabilidade pela assistência militar ao país.
Após a ratificação do tratado, um dos problemas encontrados foi definição das fronteiras do novo país, especialmente a da província de Mosul, no norte do Iraque.
A sua riqueza em petróleo e sua população curda, impedida de criar seu próprio Estado independente e presente também na Pérsia e na Síria, complicavam a situação.



Com a decisão turca de incluir a região curda do leste da Turquia em seu estado,
os britânicos decidiram então incluir Mosul no estado iraquiano, preservando o acesso as petróleo que poderia ser extraído da região, mas fundamentando sua decisão com argumentos morais.
O país tornou-se independente em outubro de 1932 e foi admitido na Liga das Nações. A imposição de fronteiras definitivas somente contribuiria para agravar as tensões, aprofundando as disputas entre vários grupos que tentavam se posicionar na nova entidade.
O conflito entre xiitas e sunitas teria de ser controlado por um governo autoritário, e as fronteiras arbitrarias determinada no tempo do mandato causariam graves conseqüências econômicas e sociais.

Mandato britânico na Palestina:
Os ingleses estavam dispostos a dominar a Palestina de forma direta, mas não demonstraram interesse em cumprir as promessas feitas em momentos anteriores, inviabilizando a formação de Estados nacionais árabes ou judeus na Palestina.
A promessa de criar um estado forte e unificado em torno de uma língua e uma cultura nacional (pan-arabismo) parecia atraente aos árabes, desde o final do século XIX.

Mas, na medida em que os Estados árabes surgiram, como resultado de um simples traçado geométrico, não foi possível assentar sobre eles um sentido de identidade nacional.
A Inglaterra beneficiou-se com o mandato da Palestina, onde governou até 1948, pois necessitavam do controle político e econômico da região, principalmente da extração de petróleo e do domínio do Canal do Suez.
Os palestinos não puderam impedir que o pós-guerra fosse marcado pela administração britânica e com isso, ao longo da década de vinte e trinta, desestruturou-se, buscando atingir os próprios interesses e visando à formação de um Estado, não Palestino, mas sim árabe ou judeu na região.

Este período foi marcado pelo crescimento da violência entre os palestinos (árabes e judeus), ambos se confrontando, organizando-se contra a administração britânica.
Isso demonstra a incapacidade de ‘liderar’ a região, não viabilizando os acordos prometidos durante a Grande Guerra, como a formação do lar nacional para os judeus, como afirmaram os ingleses através de Lorde Balfour, em 1917.